18 de março de 2009

Embalagens não escapam das mudanças exigidas pela reforma ortográfica, em pré-estréia no Brasil. Protelá-las parece ser a tônica entre as indústrias

Acordo? Talvez amanhã...
Embalagens não escapam das mudanças exigidas pela reforma ortográfica, em pré-estréia no Brasil. Protelá-las parece ser a tônica entre as indústrias
No dia 1º de janeiro último começou a vigorar no Brasil o período de adaptação ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Incubada nos últimos dezoito anos, a reforma busca uniformizar os padrões de escrita em oito países lusófonos (Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), facilitando intercâmbios de informações e de produtos. Entre outras implicações, as novas regras eliminam o uso de acentos em certas palavras, aposentam o trema e alteram determinadas hifenizações.
O prazo para adequação às novas regras é o dia 31 de dezembro de 2012. Inúmeros jornais, revistas, emissoras de TV e sites aderiram à reforma desde o primeiro dia, ou pelo menos já divulgaram o que pretendem fazer a respeito. Mas num outro campo afetado pelas alterações, o da rotulagem de produtos, predomina a indefinição.
EmbalagemMarca consultou dezoito empresas de grande porte, entre fabricantes de alimentos, de bebidas, de medicamentos e de cosméticos, perguntando-lhes sobre planos para adoção dos novos padrões em suas embalagens. A maioria mostrou-se reticente e pouco disposta a falar sobre o assunto. Apenas quatro procuradas revelaram ter projetos formatados e já em andamento.
O fato é que a fase transitória de quatro anos desestimula a preocupação imediata com a questão. Empresas como Avon, Natura, Unilever, Nestlé e Yoki informaram, por meio de suas assessorias de comunicação, que estão estudando as novas regras para futuramente, sem prazos definidos, colocar suas embalagens em conformidade com a reforma.
Uma resposta corriqueira foi a de que a adaptação de rótulos e bulas deverá ocorrer de forma gradual, à medida que novos produtos forem registrados e que os estoques sejam repostos. É compreensível. Algumas empresas possuem “despensas” com embalagens para meses, o que tem colaborado para protelar a elaboração de cronogramas de mudanças no mínimo para o segundo semestre.

Não é simplesmente mudar
Não dá para deixar de lembrar que, para os fabricantes de bens de consumo, a conformação à reforma ortográfica implica num aspecto desagradável: custos. Além da eventual contratação de profissionais capacitados para fazer as revisões ortográficas, as empresas inevitavelmente precisarão investir em novas (e, por vezes, caras) matrizes para a produção de rótulos e embalagens – chapas e cilindros, por exemplo. Isso em meio a um cenário econômico que recomenda prudência com os gastos.
“Teremos que gastar cerca de 150 mil reais em artes”, detalha Caio Cortelazzo, gerente de novos negócios do Nycomed – único laboratório entre os cinco consultados para esta reportagem a afirmar que tem um projeto de adoção das novas regras. “Considerando alterações conjuntas com outras necessidades técnicas ou regulatórias, o prazo final estimado para os ajustes é de um ano a um ano e meio”, comenta o profissional.
Quem também adentrou o ano de 2009 com uma agenda consolidada em torno da questão é a J. Macêdo, fabricante de alimentos com as marcas Petybon, Dona Benta e Sol. Embora não revele valores de investimentos, a empresa comunica que levará cerca de dezoito meses para a total adequação das embalagens de seus produtos. Os processos de revisão ortográfica e de layout das embalagens, comandados por agências de design e por um departamento interno de artes, já iniciaram. Novos produtos contemplarão os novos padrões.
Para outras empresas é complicado negligenciar a reforma. Como produz itens diretamente ligados à área de educação, a Faber-Castell contratou um especialista e já iniciou a revisão de todo o material impresso que acompanha seus lápis, canetas e suprimentos de informática, bem como o conteúdo de seu site. Resultados poderão ser vistos ainda neste semestre. “No segmento em que atuamos não é possível deixar de fazer as alterações em curto prazo, pois isso criaria confusão entre os estudantes”, afirma Elaine Machado, gerente de serviços e marketing da Faber-Castell.
O certo é que, afora todas as decisões e indecisões que vem causando, a reforma ortográfica representa uma oportunidade para resolver desencontros da língua portuguesa presente nas embalagens – que, diga-se, nunca foram poucos. Curiosamente, a reforma provoca situações inusitadas com algumas dessas impropriedades.
Veja-se o caso do vocábulo “lingüiça”, empregado em milhões de embalagens vendidas mensalmente no Brasil. Ao abolir o uso do trema, a reforma “anistia” muitas embalagens que nunca utilizaram o sinal – ou seja, que continham um erro de grafia pelo padrão a ser aposentado em breve. Quem grafava a palavra corretamente, antes da reforma, deve agora mudá-la. Sadia e Perdigão, por exemplo, estão nesse time, e informaram que o farão. Mas sem data definida.

Os impactos da reforma nas embalagens
Segundo lingüistas, o Acordo da Língua Portuguesa afeta somente algo em torno de 0,45% dos vocábulos utilizados no Brasil. No entanto, as mudanças podem causar estranheza até nos mais preparados. Veja, abaixo, alguns exemplos de como os rótulos de produtos serão afetados pelos novos padrões
O alfabeto da língua portuguesa passa a ter 26 letras, incorporando oficialmente k, w e y – que já eram largamante utilizadas à revelia da regra antiga em marcas e nomes de produtos, como ketchup.
Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (aquelas que têm acento tônico na penúltima sílaba). Exemplo: geleia passa a ser a grafia correta para o que até então era grafado como geléia.
Exceto em nomes próprios e seus derivados, o trema, tradicionalmente utilizado nos casos em que o “u” é átono e pronunciado (que, qui, gue, gui), deixa de existir na língua portuguesa. Se no padrão anterior o correto era grafar lingüiça, com a reforma passou a ser linguiça.
Outra mudança de emprego do hífen: quando o prefixo terminar em vogal, mas a palavra seguinte começar pelas letras r ou s, não se usa mais o hífen, duplicando-se tais letras (anti-séptico, por exemplo, passa a ser antisséptico).
A hifenização é agora exigida quando o prefixo terminar com vogal ou consoante igual à que começa o segundo elemento (micro-ondas, anti-inflamatório, anti-idade).
A reforma aposenta o uso do acento circunflexo em palavras com vogais dobradas, como vôo (voo) e enjôo (agora, enjoo).
PARA SABER MAIS: Diversos portais da Internet prepararam páginas especiais sobre a reforma ortográfica, algumas com guias sobre as mudanças. Uma delas é a da Folha Online: www.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/reformaortografica. Por telefone, uma opção para tirar dúvidas é o Telegramática, organizado pela prefeitura de Curitiba e executado por professores da rede municipal de ensino. O número é (41) 3218-2425.

Fonte: http://www.embalagemmarca.com.br/

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