24 de julho de 2009

A marca, a embalagem e a crise

“Líder de uma das marcas mais referenciadas do mundo, Steve Jobs passa quase tanto tempo pensando na embalagem de seus gadgets quanto nos próprios produtos. Não é uma questão de gosto ou de elegância, embora isto também faça parte de suas preocupações. Para Jobs, o ato de tirar o produto de sua caixa é uma parte importante da experiência do usuário e, como tudo o mais que ele faz, é pensado com muito cuidado para contribuir com a percepção geral de sua marca.”
O que lemos acima é o primeiro parágrafo da introdução do livro “A cabeça de Steve Jobs”, de Leander Kahney, lançado pela editora Agir. Poucos empresários perceberam como ele, que a embalagem é integrante do processo de relacionamento do consumidor/usuário com o produto e componente importante da experiência de consumo. Todos compreendem a sensação que nos proporciona o desembrulhar de um presente, a expectativa da descoberta, a alegria de receber algo, mas poucos conseguem transferir isto para seus próprios produtos. Steve Jobs percebeu que a embalagem faz diferença, percebeu claramente sua contribuição ao processo de engajamento do usuário à marca. Ao estudarmos o processo de construção de uma marca, descobrimos que ela é o resultado e o repositório de todas as ações que a empresa desenvolve ao longo do tempo, fixado na mente do consumidor. Neste processo de construção, a embalagem desempenha um papel fundamental pois ela é o elemento físico que está presente no momento mágico em que o consumidor realiza a experiência com o produto. A embalagem consolida a proposta da marca e os significados objetivos e simbólicos do produto, fazendo a entrega destes atributos ao consumidor. Ela participa do processo de comunicação funcionando como repositório da mensagem emitida pelo fabricante, aparecendo nos anúncios para informar ao consumidor aquilo que a empresa deseja que ele compre. É a ligação entre o veiculado na mensagem e o objeto final a ser encontrado. Por ser em última instancia a identidade do produto ela tem papel decisivo na recompra ao permitir que o consumidor encontre novamente o produto com o qual ele teve uma experiência positiva. Pesquisas do Comitê de Estudos Estratégicos da Associação Brasileira de Embalagem (Abre) demonstram que o consumidor não separa a embalagem de seu conteúdo, para ele os dois constituem uma única entidade indivisível. A embalagem contamina de forma decisiva e inevitável a percepção da marca, para o bem e para o mal. Sabemos que cerca de 90% dos produtos vendidos em um supermercado não têm apoio de marca, dependem única e exclusivamente da embalagem para competir e construir suas marcas. Em tempos de crise e restrição de verbas de marketing e comunicação como a que estamos vivendo, todos os recursos disponíveis precisam ser utilizados ao máximo. O custo da embalagem está embutido no produto e a empresa já pagou por ele. Portanto, ela tem em mãos uma poderosa ferramenta de marketing a custo quase zero. Por desconhecer questões simples como estas, muitas empresas deixam de aproveitar suas embalagens para estender, aprofundar e tornar mais relevante a experiência dos consumidores com suas marcas.
FABIO MESTRINER é coordenador do núcleo de estudos da embalagem da ESPM e professor da Sustentare Escola de Negócios/Joinville

20 de julho de 2009

Quanto Vale sua embalagem?

Não deve ser fácil ser diretor de marketing hoje em dia. Antes, o modelo de comunicação era estabelecido e as ferramentas de marketing pareciam mais certeiras. Hoje, com as mudanças do mercado e as evoluções da comunicação, novas mídias surgem em velocidade que é difícil acompanhar.
Com tanta pulverização na comunicação, estes diretores precisam de uma estratégia segura e inteligente: o consumidor pode ler várias revistas, ver diferentes canais e mudá-los a toda hora, navegar na internet ou não, mas tem uma mídia que não tem erro! O ponto de venda! É lá que é feita a decisão de compra! E assim, nosso querido diretor reviu o seu budget de comunicação e passou a investir mais no ponto de venda, transmitindo sua mensagem e influenciando o consumidor na hora da decisão de marca: merchandising, displays, degustação, blimp, tudo pode ser efetivo para influenciar na hora H.
E aqui surge a embalagem. Uma mídia tão poderosa que poucos executivos de marketing realmente têm uma visão real da sua importância. A embalagem não é puramente um pote que armazena o produto comercializado. Ela é bem mais que isso.
Principal Mídia, A embalagem armazena bem mais que o produto. Ela traz consigo a marca, seus valores, suas qualidades e suas emoções. Isto faz da embalagem a principal mídia da marca. Explico: ela é o ponto real de contato com o consumidor. É a embalagem que o consumidor vê no supermercado, diferenciando o produto dos concorrentes. É ela que o atrai para que ele a pegue na mão e queira saber mais informações sobre o produto, que o encanta e o convence para que ele leve o produto para casa. O grande diferencial frente as outras mídias é que em casa, o processo de comunicação da marca continua através da embalagem: na dispensa, na hora de preparo, ao ser levada à mesa da família, ao ser notada por convidados de um jantar ou na reutilização da embalagem para outras coisas. Em todos estes momentos a marca está presente, sendo veiculada no dia-a-dia de seu consumidor e potenciais consumidores.

Status x Resultado
Tudo isto parece bastante lógico. Porém, ao nos depararmos com o baixo investimento em embalagens, notamos que isto ainda não é claro para todos os executivos. Existem executivos que já têm esta consciência e dão uma atenção especial a este assunto. Porém, outros continuam achando que estar na mídia de massa é mais seguro e é a principal ferramenta para fazer vender, além de trazer status. Isto é verdade para alavancagem a curto prazo e para auxiliar na construção da marca.
Agora lhe pergunto: Que resultados de médio e longo prazo teremos com um filme lindo, uma campanha maravilhosa e de grande exposição, se a embalagem não teve o mesmo cuidado?
Tem coisa que custa, tem coisa que vale. Vemos empresas investirem milhões em mídia para divulgação de um produto. Ao analisarem um orçamento de redesign de suas embalagens e marca, a principal reação é: está caro! Caro como? Com base no que? Com certeza não é valor investido no plano de mídia ou no retorno que a embalagem tem. O que acontece é que a embalagem é vista como um elemento que compõe o produto e não como uma ferramenta estratégica. Para piorar, algumas empresas estão passando a decisão da escolha da agência de embalagem e publicidade para a área de compras. A empresa de consultoria também é decisão da área de compras? Com certeza não. É uma decisão da presidência por ter influência direta no resultado e no futuro da empresa. Vem a tona então, questões que valem uma reflexão: O impacto de uma embalagem no resultado e no futuro da empresa não é semelhante ao de uma consultoria? Como avaliar o valor de um serviço? É possível comparar o que será entregue em um serviço através do orçamento, pura e friamente? E a estrutura da empresa? E seu know-how? Se o executivo analisar o tempo de veiculação da marca na embalagem, o número de contatos que esta mídia trará e o local de exposição desta mídia - do lado dos seus concorrentes (e o melhor, na hora da decisão de compra!), com certeza este orçamento nunca será visto como caro. Afinal, tem coisa que custa e tem coisa que vale. E embalagem vale. E muito!

* Lays Carvalho é diretora de Planejamento da Pande Design Solutions – www.pande.com.br